O que verá nesta postagem:
Seção 1. Uma discussão sobre perguntas do tipo “qual é o domínio da função √x”, que não são boas perguntas.
Seção 2. Algumas definições técnicas sobre funções, além de umas poucas sutilezas.
Seção 3. Quase o mesmo conteúdo da seção 2, mas desta vez com ilustrações.
O gráfico de 1/x
{1}/ Uma pergunta ambígua
Professores de ensino médio, e mesmo professores de graduação, com frequência reclamam do estudantado, dizendo que tem dificuldade de entender a ideia de função. Na hora de ilustrar a dificuldade com um exemplo, afirmam: muito estudante não sabe o que fazer diante de perguntas como as duas a seguir.
P1) “Qual é o domínio da função √x?”
P2) “Qual é o domínio, o contradomínio, e a imagem da função 1/x?”
Com esta postagem, quero dizer que, se o professor ou o estudante está passando por esse tipo de dificuldade, existe a possibilidade de que a culpa seja do professor.
Caso o professor esteja ensinando o assunto corretamente, não faz sentido perguntar qual é o domínio ou o contradomínio de uma função, pois quem propõe uma função a outra pessoa tem a obrigação de escrever (ou dizer) claramente qual é o domínio e o contradomínio da função. O professor, para especificar a função f : A → B, tem de especificar o conjunto A, o conjunto B, e a regra de correspondência f: uma regra qualquer tal que, para cada elemento a de A, sem exceção, o interlocutor possa calcular um único elemento b = f(a) de B. Nenhuma dessas informações pode ser misteriosa, ou, melhor dizendo, se alguma dessas informações for um mistério, então o professor falhou ao especificar a função f. Assim, se o professor fez seu trabalho, e especificou corretamente a função f : A → B, qual é o domínio? É o conjunto A. E qual o contradomínio? É o conjunto B. Qual é a imagem? É um subconjunto de B, que pode (ou não pode) ser calculado por meio da regra de correspondência de f. Não há segredo — não pode haver segredo!
Assim, a pergunta “Qual é o domínio da função 1/x?” não é uma boa pergunta, pois 1/x é meramente uma expressão, e o matemático pode usá-la para especificar infinitas funções. Por exemplo:
(a) f : (0, 1) → ℝ, f(x) = 1/x. O domínio é o conjunto aberto (0, 1), o contradomínio é o conjunto ℝ dos números reais, a regra de correspondência da função f é f(x) = 1/x. f não é limitada nem é sobrejetora.
(b) g : (1, 2) → ℝ, g(x) = 1/x. O domínio é o conjunto aberto (1, 2), o contradomínio é o conjunto ℝ dos reais, a regra de correspondência de g é g(x) = 1/x. g é limitada, mas não é sobrejetora.
(c) h : (0, 1) → (1, ∞), h(x) = 1/x. O domínio é o conjunto aberto (0, 1), o contradomínio é o conjunto aberto (1, ∞), a regra de correspondência de h é h(x) = 1/x. h não é limitada, mas é sobrejetora.
Nesses três exemplos, o matemático usou a mesma expressão 1/x para definir as funções f, g, h; e não faz sentido perguntar qual é o domínio ou o contradomínio de f, g, h, pois deixou essa informação perfeitamente clara ao especificar cada função.
Assim, de modo geral, se o professor está perguntando coisas do tipo “Qual é o domínio de 1/x?” ou “Será que 1/x é sobrejetora?”, e se o estudantado não está entendendo a pergunta, algo transcorreu mal durante as aulas; pois 1/x não é uma função, mas sim uma expressão que o matemático pode usar para definir infinitas funções distintas, algumas sobrejetoras, outras não. Se o professor está definindo uma função f cuja regra de correspondência é f(x) = 1/x, ele tem a obrigação de informar à classe o domínio e o contradomínio.
Agora, existe uma situação na qual o professor pode perguntar à classe “Qual é o domínio de 1/x?”, e a classe tem a obrigação de saber a resposta. É quando, a certa altura do curso, o professor combina com a classe algo deste tipo:
“Caros: agora que já compreendemos bastante bem as ideias mais importantes sobre relações e funções, ambas definidas com subconjuntos dos reais, daqui por diante, quando eu perguntar ‘Qual é o domínio da função tal?’, na verdade quero dizer ‘Qual é o maior subconjunto possível dos reais tal que a expressão na regra de correspondência tenha um valor único?’. Assim, ‘Qual é o domínio da função tal?’ é significante, é aquilo que efetivamente digo; mas ‘Qual é o maior subconjunto possível dos reais tal que você possa calcular um valor único para a expressão na regra de correspondência?’ é significado, é aquilo que realmente quero dizer. Da mesma forma, quando eu perguntar ‘Qual é o contradomínio da função tal?’, na verdade quero que me digam qual é o conjunto mais apropriado do qual a imagem do domínio que acabaram de calcular é subconjunto próprio — e vocês vão ter de me explicar por que o contradomínio que escolheram é o mais apropriado. Por exemplo, se a imagem é o conjunto {1, 2, 3}, talvez vocês queiram me dizer que o contradomínio mais apropriado é o conjunto dos números naturais; em todo caso, estejam sempre preparados para justificar suas decisões.”
A matemática é uma espécie de jogo, e a verdade é que o professor e a classe só podem jogá-la adequadamente quando as regras estão perfeitamente claras para ambos. Mais uma vez, como é comum no relacionamento entre professor e alunos, o problema de “Qual é o domínio de 1/x?” é o problema de combinar com a classe significantes e significados.
Hung-Hsi Wu, matemático americano, autor do ótimo Understanding Numbers in Elementary School Mathematics, avisa na carta ao leitor: “Para aqueles que se julgam avessos à matemática, tenho uma mensagem especial. Sua aversão provavelmente surgiu porque, na escola, te pediam para fazer coisas sem que antes houvesse preparação e explicações adequadas e suficientes.” Quando Hung-Hsi conversa com professores de matemática, e quando observa suas práticas, com frequência topa com professores que, aparentemente, não acreditam na “primazia das definições precisas”. Ele escreve mais à frente: “Este livro coloca a definição dos conceitos no seu lugar apropriado na matemática: no centro do palco — nas fundações de todo raciocínio e de toda discussão.”
Esse é o problema com a pergunta “Qual é domínio de 1/x?”: na ausência de definições precisas, a pergunta não pode ser respondida; e na presença de definições precisas, ou a pergunta não deve ser feita dessa maneira ou, caso seja feita da maneira correta, a resposta é trivial. {❏}
{2}/ Apêndice: a definição de função e algumas sutilezas
Função. Uma função f de um conjunto X para um conjunto Y é uma relação na qual cada elemento de X, sem exceção, tem um e só um elemento correspondente em Y. Para grafar a função f de X em Y, você deve escrever f : X → Y. Se com a função f de X em Y você faz corresponder o elemento x em X ao elemento y em Y, pode dizer que f de x é y, e pode escrever isso assim: f(x) = y. Portanto, para qualquer x em X, o símbolo f(x) denota o único elemento correspondente de x em Y.
Como ler f : A → B. Algumas sugestões: (1) “A função f do conjunto A ao conjunto B.” (2) “A função f de A em B.” (3) “A função f manda elementos de A a elementos de B.” (4) “A função f manda A para B.” (5) “A função f tal que a cada elemento de A, sem exceção, corresponde um e só um elemento de B.” (6) “A função f mapeia A em B.” (7) “A transformação f mapeia A em B.” (8) “A aplicação f mapeia A em B.”
Relação. Uma relação de um conjunto S a um conjunto T é um subconjunto do produto cartesiano de S e T. Pode escrever isso em símbolos desta maneira: R é uma relação de S em T se e somente se R ⊆ (S ✕ T). Visto que S ✕ T é um conjunto de pares ordenados (s, t), com s ∈ S e t ∈ T, qualquer relação de S em T é um conjunto de pares ordenados. Sendo assim, se f é uma função de S em T, isto é, se f : S → T, ao escrever f(s) = t, você na verdade quer denotar o par ordenado (s, t).
Produto cartesiano. Se S é um conjunto e se T é um conjunto, daí o produto cartesiano de S e T é o conjunto de todos os pares ordenados (s, t) tais que s é elemento de S e t é elemento de T. Para anotar o produto cartesiano de S e T, escreva S × T.
Relações vazias, funções vazias. Visto que uma relação R de S em T é um subconjunto de S × T, e visto que o conjunto vazio ∅ é subconjunto de S × T (pois ∅ é subconjunto de todo conjunto), disso se segue que ∅ é uma das relações possíveis em S × T; além disso, ∅ está de acordo com a definição de função: cada elemento de S (não há nenhum) tem um e só um elemento correspondente em T (não há nenhum).
Regra de correspondência. A regra de correspondência de uma função f de A em B não precisa ser uma expressão matemática: pode ser uma tabela, um desenho, um texto, uma pessoa (“pergunte ao Rogério”); pode ser muita coisa. De modo análogo, os elementos de A ou de B não precisam ser objetos abstratos da matemática.
Além disso, a regra de correspondência deve permitir que, em tese, seja possível calcular o elemento do contradomínio que corresponde a certo elemento do domínio. “Em tese” é a questão: há funções perfeitamente bem definidas nas quais, na prática, é impossível calcular todo elemento do contradomínio. Por exemplo: seja F o conjunto de todas as funções, e C a classe de todos os conjuntos; além disso, para qualquer função x, use d(x) para denotar o domínio de x. Essa função d está perfeitamente caracterizada com palavras da língua portuguesa, embora, no caso de certas funções x, seja impossível calcular todo elemento de d(x).
Por último: não há nenhuma distinção lógica entre “regra de correspondência” e “conjunto de pares ordenados”. Pares ordenados são a persona formal das regras de correspondência.
Domínio. Se R é uma relação de S em T, o domínio de R é S.
Contradomínio. Se R é uma relação de S em T, o contradomínio de R é T.
Imagem. Se R é uma relação de S em T, a imagem de R é o conjunto de todo y em T tal que existe algum (x, y) em R. Considere, por exemplo, a relação “x1 é o marido de x2”. É uma relação entre homens e mulheres. O domínio é o conjunto HC dos homens casados, isto é, x1 ∈ HC. O contradomínio é o conjunto M das mulheres. A imagem MC é o conjunto das mulheres casadas, isto é, x2 ∈ MC. (Note que MC ⊆ M.) Caso chame a relação de C, pode indicar “x1 é o marido de x2” com x1Cx2 ou com C(x1, x2), entre outras opções. Levando em consideração o mundo real, C é de fato uma relação, mas não é uma função, pois alguns homens são casados com mais de uma mulher. Notação. Na função f : A → B, denote a imagem de f com f(A), e note que, muitas vezes, f(A) ⊂ B, isto é, a imagem f(A) é subconjunto próprio do contradomínio B, isto é, f(A) ≠ B ou B – f(A) ≠ ∅.
Por que em geral o contradomínio é superconjunto próprio da imagem. Frequentemente, o matemático precisa aplicar duas funções em sequência, ou mais de duas. Suponha as funções f : A → B e g : B → C. Se quiser aplicar f primeiro, e g depois, isto é, se quiser aplicar a função g ◦ f : A → C, talvez tenha problemas se a imagem de f não coincide com o domínio de g, isto é, se f(A) ≠ B. É para evitar esse tipo de problema que, em geral, o matemático prefere trabalhar com contradomínios ‘abrangentes’, como o conjunto ℝ dos números reais ou o ℂ dos complexos: assim não tem com que se preocupar com a concatenação de imagens e domínios de duas ou mais funções aplicadas em sequência.
Função limitada. Considere a função f : A → B. Se o contradomínio B é um conjunto de números, você pode dizer que f tem um limite superior se existe um número x, não necessariamente elemento de B, tal que todo elemento de B é igual ou menor que x. De modo análogo, diga que f tem um limite inferior se existe um número y, não necessariamente elemento de B, tal que todo elemento de B é igual ou maior que y. Se f tem um limite inferior e, além disso, um limite superior, então f é uma função limitada. Se f não tem um limite inferior ou se não tem um limite superior, então f é uma função não limitada ou ilimitada. Com algum trabalho de abstração, é possível adaptar o conceito de função limitada para funções cujo contradomínio não é um conjunto de números.
Função sobrejetora. Se todo elemento do contradomínio, sem exceção, é o correspondente de algum elemento do domínio, então a função é sobrejetora. Mais formalmente: na função f : A → B, f é sobrejetora se e somente se, para todo b ∈ B, existe um a ∈ A tal que f(a) = b. Em outras palavras, o contradomínio e a imagem de f são iguais, isto é, B = f(A).
{3}/ Apêndice 2: Funções por meio de tabelas e figuras
Fig. 1
Na figura 1, você vê dois conjuntos A = {a, b, c} e B = {1, 2, 3, 4}. O produto cartesiano A ✕ B é o produto a seguir.
|
1 |
2 |
3 |
4 |
a |
(a, 1) |
(a, 2) |
(a, 3) |
(a, 4) |
b |
(b, 1) |
(b, 2) |
(b, 3) |
(b, 4) |
c |
(c, 1) |
(c, 2) |
(c, 3) |
(c, 4) |
Assim, o produto cartesiano A ✕ B é o conjunto A ✕ B = {(a, 1), (a, 2), (a, 3), (a, 4), (b, 1), (b, 2), (b, 3), (b, 4), (c, 1), (c, 2), (c, 3), (c, 4)}.
A figura 1 representa a relação R = {(a, 1), (a, 2), (b, 3), (c, 4)}. É uma relação, pois R ⊂ A ✕ B; mas não é uma função, pois o elemento a ∈ B é o correspondente dos dois elementos 1, 2 do domínio B. Para que R fosse uma função, cada elemento a, b, c do domínio, sem exceção, deveria estar interligado, por meio da regra de correspondência R, a um e apenas um elemento do domínio B.
Fig. 2
Na figura 2, pode ver uma função que não é injetora (pois o elemento 3 ∈ B está interligado a dois elementos c, d ∈ A), nem sobrejetora (pois 5 ∈ B não está interligado a nenhum elemento de A), nem bijetora (pois não é injetora e sobrejetora).
Fig. 3
Na figura 3, pode ver uma função injetora, pois a cada elemento y ∈ B que faz parte da função, corresponde um e só um elemento x ∈ A. Mais formalmente, numa função f injetora, f(x) = f(y) implica x = y. Note que, numa função f injetora, talvez seja o caso de que B ≠ f(A), isto é, de que o contradomínio B seja diferente da imagem de f.
Fig. 4
Na figura 4, pode ver uma função sobrejetora, pois a cada elemento y ∈ B, sem exceção, corresponde um elemento x ∈ A.
Fig. 5
Na figura 5, pode ver uma função bijetora, isto é, uma função que é ao mesmo tempo injetora e sobrejetora. Nesse tipo de função, para cada y ∈ B, sem exceção, existe um e só um x ∈ A tal que f(x) = y.
Resumo. Considere dois conjuntos A, B, não necessariamente diferentes. (1) Numa relação entre A e B, talvez um elemento de A esteja ligado a mais de um elemento de B; talvez um elemento de B esteja ligado a mais de um elemento de A; talvez nenhum elemento de A esteja ligado a nenhum elemento de B. Há muita liberdade em relações. (2) Numa função de A em B, todo elemento de A, sem exceção, está ligado a um e apenas um elemento de B; mas pode ser que dois elementos de A estejam ligados ao mesmo elemento de B; e pode ser que algum elemento de B não esteja ligado a nenhum elemento de A. (3) Numa função injetora de A em B, se um elemento de B está ligado a algum elemento de A, então está ligado a um e apenas um elemento de A; contudo, talvez algum elemento de B não esteja ligado a nenhum elemento de A. (4) Numa função sobrejetora de A em B, cada elemento de B, sem exceção, está ligado a algum elemento de A; porém, talvez um elemento de B esteja ligado a mais de um elemento de A. (5) Numa função bijetora de A em B, cada elemento de A, sem exceção, está ligado a um e só um elemento de B; e cada elemento de B, sem exceção, está ligado a um e só um elemento de A. Uma função bijetora é, ao mesmo tempo, injetora e sobrejetora. {FIM}
Observações:
1. Se gostaria de saber mais sobre conjuntos, relações, e funções, veja a postagem Conjuntos: Os Alicerces da Matemática.
2. Há dois momentos importantes na vida do matemático: o de inventar e o de descobrir.
Às vezes, o matemático começa com noções comuns, mal formuladas, e vai fazendo descobertas sobre tais noções; mais tarde, inventa uma estrutura matemática para deixar tais noções muito bem formalizadas. Em casos assim, houve primeiro as descobertas, e depois a invenção; e desse modo as “definições precisas” de Hung-Hsi surgem tarde no processo de investigação. Às vezes, contudo, o matemático começa com estruturas matemáticas muito bem formalizadas, sobre as quais mais tarde faz descobertas. Em casos assim, houve primeiro a invenção, e depois as descobertas; e portanto as definições precisas surgem logo no início do processo de investigação. Dizer isso significa dizer que o matemático profissional nem sempre pode dar “primazia às definições precisas”.
Apesar dessa objeção, na escola básica, e também na faculdade, não há desculpa para trabalhar com noções comuns em detrimento de definições precisas, pois toda a matemática da escola básica e da graduação está bem formalizada há bastante tempo.
Se um professor conhece as reclamações de Paul Lockhart em O Lamento de um Matemático, como pode conciliá-las com a objeção de Hung-Hsi? Ora, deve seguir o conselho de Lockhart e dar suas aulas em torno de problemas (problemas do ponto de vista do aluno), para que a classe tenha a oportunidade de conhecer o prazer da matemática; mas deve pensar na objeção de Hung-Hsi e, de modo inteligente, e muito hábil, fazer a classe ver que estruturas matemáticas bem formalizadas, escritas com definições precisas, são o objetivo último de toda investigação matemática. Como os historiadores da matemática já cansaram de nos mostrar, às vezes a resolução de um problema consiste em atinar com definições precisas: a definição é a resolução.
Acredito que objetos abstratos são procedimentos com alto grau de exatidão, isto é, procedimentos com baixo grau de vagueza e baixo grau de ambiguidade. (Para saber mais sobre isso, clique aqui.) Se for assim, a matemática é a arte de escrever sobre procedimentos com alto grau de exatidão, e o matemático só consegue exercer sua arte quando desenvolve uma linguagem com alto grau de exatidão; esse tipo de linguagem só pode existir com definições precisas.
3. Significante é o que uma pessoa diz ou escreve. “Você tem um lápis?” Significado é o que ela gostaria que seu interlocutor entendesse. “Se você tem um lápis, pode me emprestá-lo por um momento?”
4. Quando você quer achar o maior subconjunto possível dos reais para o qual uma expressão como 1/x ou √x serviria como regra de correspondência para uma função, pode usar a expressão “domínio natural”. Assim, quando um professor pergunta “Qual é o domínio de 1/x?”, na verdade quer perguntar “Qual é o domínio natural de 1/x?” Contudo, o conselho desta postagem continua valendo: o professor só pode usar o termo “domínio natural” (ou então “domínio” como significante e “domínio natural” como significado) depois que a classe souber exatamente o que esse termo significa, isto é, depois que souber exatamente quais procedimentos deve realizar para atinar com uma boa resposta.
5. Neste blogue, eu às vezes uso expressões do tipo “o domínio da função x2” ou a versão mais curta ainda, “o domínio de x2”, quando acho que o contexto me desculpa; pois tais expressões são muito sucintas — e isso explica por que tanta gente as usa tão frequentemente.
6. Existe outro jeito de caracterizar a função f : A → B, com y = f(x), que é: f : x ↦ y = f(x), com x ∈ A e y ∈ B. (Leia: “A função f tal que, a cada elemento x, corresponde um elemento y que é igual a f de x.”) Da primeira maneira, a ênfase recai sobre os conjuntos A e B, isto é, recai sobre domínio e contradomínio; da segunda maneira, a ênfase recai sobre a regra de correspondência. Note a diferença nas setas: a seta → é para usar com conjuntos; a seta ↦ é para usar com elementos de conjuntos.
7. Muitos matemáticos dizem que a ideia de função é a mais importante da matemática — mas ela é mal ensinada em muitos países, inclusive naqueles em que o ensino de matemática é bom. No Reino Unido, por exemplo, 43% dos estudantes no primeiro ano de faculdade tentam calcular f(x + a) adicionando a ao valor de f(x), em vez de substituir x por x + a em todo lugar no qual x aparece. Em outras palavras, eles inadvertidamente acham que f(x + a) = f(x) + a; contudo, no sistema dos números reais, essa equação só é verdadeira quando f(x) = x + c, com c uma constante qualquer.